Relato QUARTO ENCONTRO - finalização do projeto

 JÁ TREME TERRA GUARANI

Finalização do projeto Teias Jovens - FONAJUVES

Juventude Ayahuasqueira da Porta do Sol – JÁ

São Paulo, 20 de agosto de 2012



            Chegamos ao fim deste Projeto de intercâmbio cultural JÁ TREME TERRA GUARANI entre a Juventude Ayahuasqueira da Porta do Sol – JÁ, o grupo jovem de cultura Afro-brasileira TREME TERRA e a aldeia indígena Guarani Tenondé Porã, no bairro de Parelheiros da cidade de São Paulo, contemplados pelo Edital Teias Jovens – FONAJUVES 2012.
            Realizamos cinco encontros com os indígenas na aldeia Tenondé. O primeiro foi um acordo diplomático entre a coordenação do JÁ e a liderança feminina da aldeia, Jerá Guarani, para a viabilização deste projeto. No segundo encontro o JÁ e o Treme Terra passaram uma tarde na aldeia aprendendo a tecer cestos com palhas de bambus, ouvindo histórias tradicionais Guarani e sobre a atual situação da aldeia, comendo bolinhos preparados pelas avós Guaranis no fogão à lenha comunitário da aldeia. A terceira visita foi noturna, onde fomos convidados a participar de uma cerimônia espiritual dentro da Opã – casa de reza; cantamos e dançamos por seis horas em um ritual milenar Guarani. Em retribuição às músicas e danças que eles nos ofertaram, no encontro seguinte, quarta visita na aldeia, o JÁ e o Treme Terra também apresentaram seus cantos e suas danças para o povo Guarani, depois de comer uma galinhada na panela preparada pela Jerá. O quinto e último encontro na aldeia foi ontem, um domingo ensolarado onde Jerá, Claudio e Osmar (professores da escola indígena da aldeia) nos receberam em suas casas e comemos juntos alguns frangos assados que levamos, desfrutando da culinária brasileira em um almoço coletivo que aproximou ainda mais os três grupos de jovens: o JÁ, o Treme Terra e os Guarani.
            Finalizamos este projeto com uma boa mistura das culturas brasileiras e com um pouco do que vivemos em cada um dos encontros. Como já é de costume toda vez que visitamos a aldeia, presenteamos Jerá com Erva Mate e Tabaco, ervas sagradas consumidas permanentemente pelos Guaranis. Depois do almoço com mais de vinte e cinco pessoas, Jerá nos convidou para conhecer seu berçário de mudas de palmito Jussara (atualmente ameaçado de extinção) que ela mantém atrás de sua casa, com ajuda dos jovens estudantes da escola local que dirige e é professora. Todos nós fomos presenteados com uma muda de Jussara que Jerá nos deu para plantarmos e ajudarmos a preservá-lo. Em seguida fomos cantar, dançar e conversar ao pé das árvores perto do campo de futebol da aldeia. Pudemos comprar alguns artesanatos (uma das poucas fontes de renda da aldeia) e assistir o jogo de futebol de domingo.
Espontaneamente se estabeleceu uma roda de improvisação musical com a rabeca e o violão dos Guaranis, o berimbau, pandeiro, sanfona e flauta do JÁ e os tambores, caxixis e agogôs do Treme Terra. Os Guaranis cantaram seus cantos sagrados a Yamandú e ensinaram os passos das danças femininas e as masculinas para nosso grupo. Foi muito emocionante essa boa mistura.
Jerá sugeriu uma roda maior no campo de futebol durante o intervalo do jogo e assim fizemos um divertido jogo de capoeira, com a especial participação das crianças Guaranis.
Encerramos com uma roda de depoimentos onde todos os participantes registraram suas percepções e agradeceram a oportunidade de viver essa aproximação com as diversidades da cultura brasileira. Esse projeto possibilitou estreitarmos os afetos entre os jovens urbanos e os Guaranis paulistanos e exercitar na prática o respeito às diferenças e ao desconhecido, sem necessariamente “tolerar” o outro, mas assegurar o direito inalienável de viver conforme as próprias tradições.
A maioria dos participantes não conhecia uma aldeia indígena, sequer sabia que existiam aldeias de índios no território da cidade de São Paulo. As escolas onde estudam, definitivamente não estão interessadas em apresentar essas realidades para seus estudantes, estão focadas em preparar candidatos para o vestibular...
É preciso reescrever a história. Enquanto as velhas mentiras forem contadas como verdades aos novos, continuaremos a viver sob as ilusões massacrantes. Para que a nossa Nação seja melhor no futuro é necessário viver a transformação já.
Os diversos povos indígenas do Brasil são guardiões de sabedorias ancestrais e saber ouvi-los demonstra nossa sabedoria. Já se foi o tempo em que o colonizador “doutrinava” os “gentis”, agora o Novo Tempo quer a co-criação entre os povos. E o Brasil é privilegiado porque nossa terra acolhe inumeráveis tradições desde os tempos mais remotos, sempre tivemos diversos povos vivendo por aqui e a miscigenação sempre aconteceu neste território do planeta. O silêncio e a mente tranquila dos Guaranis podem contribuir com o Ser-urbano contemporâneo. O tempo da natureza pulsa conforme o coração, não na frequência da mente acelerada e confusa. A juventude que deseja construir um novo mundo pode aprender bastante com as populações indígenas tradicionais e não mais reproduzir os padrões de enfrentamento entre os povos e o desprezo em relação ao outro.
JÁ TREME TERRA GUARANI agradece por podermos contribuir com o fortalecimento da Rede de Movimentos de Juventude no Brasil desta forma, conforme nossos princípios Éticos e nossas ancestralidades, valorizando o que o Brasil tem de mais valioso: suas diferentes culturas.

Com amor e gratidão,
Carlos Henrique Guimarães – coordenador do JÁ.