Projeto: JÁ TREME TERRA GUARANI
Relato QUARTO ENCONTRO - finalização do projeto
JÁ TREME TERRA GUARANI
Finalização do projeto Teias
Jovens - FONAJUVES
Juventude Ayahuasqueira da Porta do Sol – JÁ
Chegamos ao fim deste Projeto
de intercâmbio cultural JÁ TREME TERRA
GUARANI entre a Juventude Ayahuasqueira da Porta do Sol – JÁ, o grupo jovem
de cultura Afro-brasileira TREME TERRA e a aldeia indígena Guarani Tenondé
Porã, no bairro de Parelheiros da cidade de São Paulo, contemplados pelo Edital
Teias Jovens – FONAJUVES 2012.
Realizamos cinco
encontros com os indígenas na aldeia Tenondé. O primeiro foi um acordo
diplomático entre a coordenação do JÁ e a liderança feminina da aldeia, Jerá
Guarani, para a viabilização deste projeto. No segundo encontro o JÁ e o Treme
Terra passaram uma tarde na aldeia aprendendo a tecer cestos com palhas de
bambus, ouvindo histórias tradicionais Guarani e sobre a atual situação da
aldeia, comendo bolinhos preparados pelas avós Guaranis no fogão à lenha
comunitário da aldeia. A terceira visita foi noturna, onde fomos convidados a
participar de uma cerimônia espiritual dentro da Opã – casa de reza; cantamos e
dançamos por seis horas em um ritual milenar Guarani. Em retribuição às músicas
e danças que eles nos ofertaram, no encontro seguinte, quarta visita na aldeia,
o JÁ e o Treme Terra também apresentaram seus cantos e suas danças para o povo
Guarani, depois de comer uma galinhada na panela preparada pela Jerá. O quinto
e último encontro na aldeia foi ontem, um domingo ensolarado onde Jerá, Claudio
e Osmar (professores da escola indígena da aldeia) nos receberam em suas casas e
comemos juntos alguns frangos assados que levamos, desfrutando da culinária
brasileira em um almoço coletivo que aproximou ainda mais os três grupos de
jovens: o JÁ, o Treme Terra e os Guarani.
Finalizamos este
projeto com uma boa mistura das culturas brasileiras e com um pouco do que
vivemos em cada um dos encontros. Como já é de costume toda vez que visitamos a
aldeia, presenteamos Jerá com Erva Mate e Tabaco, ervas sagradas consumidas
permanentemente pelos Guaranis. Depois do almoço com mais de vinte e cinco
pessoas, Jerá nos convidou para conhecer seu berçário de mudas de palmito
Jussara (atualmente ameaçado de extinção) que ela mantém atrás de sua casa, com
ajuda dos jovens estudantes da escola local que dirige e é professora. Todos
nós fomos presenteados com uma muda de Jussara que Jerá nos deu para plantarmos
e ajudarmos a preservá-lo. Em seguida fomos cantar, dançar e conversar ao pé
das árvores perto do campo de futebol da aldeia. Pudemos comprar alguns
artesanatos (uma das poucas fontes de renda da aldeia) e assistir o jogo de
futebol de domingo.
Espontaneamente se estabeleceu uma roda de improvisação musical com a
rabeca e o violão dos Guaranis, o berimbau, pandeiro, sanfona e flauta do JÁ e
os tambores, caxixis e agogôs do Treme Terra. Os Guaranis cantaram seus cantos
sagrados a Yamandú e ensinaram os passos das danças femininas e as masculinas
para nosso grupo. Foi muito emocionante essa boa mistura.
Jerá sugeriu uma roda maior no campo de futebol durante o intervalo do
jogo e assim fizemos um divertido jogo de capoeira, com a especial participação
das crianças Guaranis.
Encerramos com uma roda de depoimentos onde todos os participantes
registraram suas percepções e agradeceram a oportunidade de viver essa
aproximação com as diversidades da cultura brasileira. Esse projeto
possibilitou estreitarmos os afetos entre os jovens urbanos e os Guaranis
paulistanos e exercitar na prática o respeito às diferenças e ao desconhecido,
sem necessariamente “tolerar” o outro, mas assegurar o direito inalienável de
viver conforme as próprias tradições.
A maioria dos participantes não conhecia uma aldeia indígena, sequer
sabia que existiam aldeias de índios no território da cidade de São Paulo. As
escolas onde estudam, definitivamente não estão interessadas em apresentar
essas realidades para seus estudantes, estão focadas em preparar candidatos
para o vestibular...
É preciso reescrever a história. Enquanto as velhas mentiras forem
contadas como verdades aos novos, continuaremos a viver sob as ilusões
massacrantes. Para que a nossa Nação seja melhor no futuro é necessário viver a
transformação já.
Os diversos povos indígenas do Brasil são guardiões de sabedorias
ancestrais e saber ouvi-los demonstra nossa sabedoria. Já se foi o tempo em que
o colonizador “doutrinava” os “gentis”, agora o Novo Tempo quer a co-criação
entre os povos. E o Brasil é privilegiado porque nossa terra acolhe inumeráveis
tradições desde os tempos mais remotos, sempre tivemos diversos povos vivendo
por aqui e a miscigenação sempre aconteceu neste território do planeta. O
silêncio e a mente tranquila dos Guaranis podem contribuir com o Ser-urbano
contemporâneo. O tempo da natureza pulsa conforme o coração, não na frequência
da mente acelerada e confusa. A juventude que deseja construir um novo mundo
pode aprender bastante com as populações indígenas tradicionais e não mais
reproduzir os padrões de enfrentamento entre os povos e o desprezo em relação
ao outro.
JÁ TREME TERRA GUARANI agradece por podermos contribuir com o fortalecimento da Rede de
Movimentos de Juventude no Brasil desta forma, conforme nossos princípios
Éticos e nossas ancestralidades, valorizando o que o Brasil tem de mais
valioso: suas diferentes culturas.
Com amor e gratidão,
Carlos Henrique Guimarães – coordenador do JÁ.
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