Relato PRIMEIRO ENCONTRO

PRA TREMER A TERRA JÁ!

Primeira visita do JÁ e do TREME TERRA à aldeia guarani Tenondé Porã, em Parelheiros, na cidade de São Paulo, em atividade de intercâmbio cultural do projeto PRA TREMER A TERRA JÁ, contemplado pelo Edital TEIAS JOVENS.

Visitamos a aldeia em nove pessoas, sete representantes do JÁ (Henrique Guimarães, Juliana Schalch, Rafael Lemos, Carolina Nagayoshi, Rafael Camargo, Lilian Cardoso e, o Conselheiro do JÁ, Leonardo Mussi) e mais dois representantes do TREME TERRA (Ronaldo e Adonai, que também é do JÁ).
Para essa visita tivemos o apoio da subprefeitura de Parelheiros que nos disponibilizou um transporte de van da estação de trem Grajaú até a aldeia e o retorno também. Essa colaboração com nosso projeto se deu através do Wagner da subprefeitura de Parelheiros e da Lucia Belenzani, nossa parceira da subprefeitura do Butantã que indicou o contato do Wagner. Registro aqui nosso agradecimento por essa parceria. Faremos uma reunião com Wagner que nos convidou para tratarmos de próximas parcerias.
Marcamos como ponto de encontro a catraca da estação de trem Grajaú, ultima parada desta linha, ao meio dia. Quando todos chegaram fomos encontrar o Toninho, motorista da van, para partirmos em direção à aldeia que fica na área rural de Parelheiros, impressionantemente dentro da cidade de São Paulo. Da estação de trem até a aldeia foram 50 minutos, sem contar a meia hora de almoço que fizemos num restaurante bem gostoso de comida caseira, no centro de Parelheiros, onde gastamos R$ 85,00 pra oito pessoas.
Chegamos à aldeia por volta das 14h. Toninho, o motorista, esperou que a gente conversasse com algum guarani pra ver se estava tudo certo. Falei com Germano, um guardião da aldeia que estava sentado em frente à escola e perguntei sobre a Jerá, nossa anfitriã, vice-diretora da escola municipal, professora e líder jovem da aldeia. Germano disse para o grupo descer que estavam por lá nos esperando. Depois de falar com Germano, avisei o motorista Toninho que estava tudo bem e ele riu, porque havia me alertado que já furaram com ele algumas vezes, de marcar e não aparecer ninguém...
Fomos ao lugar onde alguns índios estavam. No caminho conversamos com a pequena Dara, que viemos a saber depois, ser peruana e que está na aldeia há poucos anos, com sua família que se mudou para São Paulo; Dara nos indicou o caminho. Chegamos de mochilas, celulares, câmeras, mas discretamente...
Ao encontrarmos o grupo de índios que estavam trabalhando com taquara, cumprimentamos e eles riram muito. Claudio Clayve, professor de artes e educação física da escola, nos acolheu e convidou o grupo a se sentar com eles e participar da oficina de confecção de cestos com a palha do bambu. Sentamos e começamos a raspar as taquaras, desfiar as varetas até obter a palha certa pra montar os cestos. Dali em diante, Claudio foi puxando um assunto ou outro até perguntar o que estávamos fazendo ali. Eu falei que começávamos um intercâmbio entre nossos grupos jovens com os guaranis da aldeia e ele gostou. Claudio aproveitou o ensejo pra falar sobre a atual situação da aldeia, que não possui terra suficiente pra plantar, caçar, migrar, enfim, que não podem exercer sua cultura plenamente devido às limitações. Comentou sobre a batalha do Cacique Timoteo na FUNAI para conquistarem mais terras e de fortalecer a cultura guarani.
De grão em grão a conversa cresceu. Dali a pouco, Claudio seguiu falando mais sobre a cultura guarani e comentou sobre sua espiritualidade. Estávamos em frente à Casa de Reza da aldeia, local que ninguém entra sem ser convidado e, como o papo estava bom, ele nos convidou a entrar no espaço sagrado da aldeia. Apresentou seus instrumentos de poder usados pelos Pajés Tiramães (médicos guaranis). Ele deixou apenas os homens tocarem em alguns instrumentos e apenas as mulheres em outros. Mostrou o altar feito com um cocar de muitas penas representando o sol e alguns maracás usados pelos Pajés em seus rituais no final do dia. Disse que na aldeia existem cinco pajés, quatro homens e uma mulher e que qualquer questão de saúde, primeiro é tratada com os pajés, depois com os médicos do posto de saúde que fica dentro da aldeia.
Seguimos tirando as palhas e montando as cestas. Encontramos com outro grupo visitante ILE ASE HOZOOUANE de Candomblé Angola de Obaluaiê, onde nosso conhecido Pedro Alfazema estava participando, com um projeto de aproximação entre jovens da cultura afro-brasileira e os jovens guaranis. Trocamos contatos e fortalecemos a rede.
Gravamos pequenos vídeos, tiramos fotos, conversamos bastante, demos muitas risadas e tomamos um cafezinho doce feito no fogão à lenha com um bolinho de farinha de trigo, tchiapã, parecido com nosso bolinho de chuva, preparados e fritos na hora pelas velhas índias guaranis que estavam ensinando o grupo a fazer os cestos de palha.
Na hora do café chegou nosso antigo amigo, Paulinho Karaí, que conduziu o JÁ em 2007 nas duas primeiras caminhadas que fizemos com ele na TRILHA DA TERRA SEM MALES, descendo a Serra do Mar, de Parelheiros até Itanhaém, em um sistema milenar de caminhos pela floresta que liga as aldeias guaranis Tenondé Porã e Rio Branco, no pé da Serra. Foi um reencontro bem animado! Paulinho presenteou o JÁ com uma escultura em madeira feita por ele: uma Águia, que segundo ele, simboliza a perseverança e a vitória, ave que vai até a mais alta montanha quando está velha, para retirar suas penas, quebrar suas unhas e seu bico e renascer, nova em folha. Jerá, irmã de Paulinho Karaí, não pode aparecer devido uma questão urgente que surgiu, mas cumpriu com sua palavra ao preparar nossa chegada à aldeia para visitar seu grupo.
A questão TEMPO foi a que mais me chamou a atenção. A aldeia vive em outro tempo, bem diferente do nosso. Nossa programação, enviada ao Edital TEIAS JOVENS, planejava outras atividades neste primeiro dia, mas, depois que Juliana e eu visitamos Jerá com Luciano e Gisele (dois outros Conselheiros do JÁ e responsáveis pela aproximação de nossos grupos com essa aldeia guarani), num outro dia, para estabelecer a parceria com a aldeia para a realização deste projeto; conversamos com os participantes do JÁ e do TREME TERRA sobre a forma de conseguir realizar nossos objetivos, uma vez que aldeia tem sua dinâmica própria, bem diferente da que estamos acostumados em nossa sociedade.
Isso já foi um grande aprendizado, porque na reunião entre JÁ e TREME TERRA para preparar essa primeira visita de intercâmbio entre os grupos, havíamos percebido que não daria pra chegar propondo muita coisa, interferindo no cotidiano deles. O mais interessante pra nós será entrarmos no TEMPO deles, que o aprendizado também virá desta forma, vivendo o cotidiano deles.
Então estamos agora revendo a forma de poder trocar musicalmente com os guarani, de trocar pontos de vista sobre o cinema, a política, a ética e o meio ambiente, conteúdos a que nos propusemos a trabalhar neste projeto PRA TREMER A TERRA JÁ.
Combinamos nossa próxima visita para o dia 10 de abril. Para esse próximo encontro, fomos convidados a pernoitar dentro da aldeia, para participar de suas cantorias noturnas. Acredito que dessa maneira a troca musical será bastante efetiva, cantando junto em um ambiente informal, em roda, na fogueira, assim imagino...
Foi muito especial esse encontro que, para alguns dos nossos grupos, foi o primeiro contato com uma aldeia indígena.
Agradecemos à PORTA DO SOL e ao TEIAS JOVENS por essa oportunidade.



Carlos Henrique Guimarães
Um dos coordenadores do JÁ e um dos proponentes deste projeto









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